SEM MEDO DE TER MEDO
Depois de mais de um ano de vida, pela primeira vez, o Luiz Felipe teve uma demonstração de medo. Até eu fiquei com medo do medo dele, tadinho, chorou bastante. Mas respirei fundo e pensei sobre o que era melhor fazer. O medo dele foi de um bichinho de pelúcia fofo, em um teatrinho. Eu sei que o medo seria reforçado e talvez até aumentado com o passar do tempo caso eu não agisse rápido e com muito carinho e compreensão (se eu tivesse deixado ele lidar com aquele medo sozinho, talvez ele não tivesse encontrado a mesma solução que encontramos juntos e, o que era um pequeno medo da pelúcia, poderia se transformar em medo do lugar, de outras pelúcias, das pessoas que estavam lá naquele momento...). Então, resolvi fazer com que ele pudesse conhecer o “perigo” que não era perigoso realmente e peguei o boneco e fui aproximando, conforme ele ia permitindo, deixei ele tocar no bichinho conforme as lágrimas iam cessando e depois deixei na mão dele, para que ele brincasse livremente. Ou seja, não permiti que ele fosse embora do ambiente sofrendo de medo e aumentando sua sensação de terror. Depois ele até estava sorrindo para o boneco... Ainda bem. Agora ele já sabe que aquela pelúcia não é perigosa e, muito provavelmente, outras parecidas tampouco parecerão perigosas por associação.
Ter medo é humano, é normal. E não é somente normal, como tem valor positivo para a sobrevivência, afinal, sem medo iríamos pular de precipícios, reagir a assaltos, pular na jaula de leões, fazer carinho em cachorros que não conhecemos, colocar o dedinho na tomada...
Além de importante para a sobrevivência, eu também vejo o medo como secundário a outros impulsos, sentimentos, pensamentos, pois, na ausência destes, provavelmente a pessoa não se prepararia para o perigo. Ou seja, para que uma criança tenha medo da pelúcia, é preciso que ela pelo menos entenda que um animal pode atacar uma pessoa. Como para a criança a pelúcia é um animal que pode atacar uma pessoa, então daí vem o medo de que a pelúcia a ataque. É, portanto, necessário estar dotada do impulso para o saber para que então, possa perceber que algo pode ser ou é perigoso. Sem o conhecimento do que é perigoso (mesmo que fantasiado a partir do real), é impossível sentir medo e uma de nossas tarefas como pais é ir, aos poucos, ajudando a ter medo das coisas perigosas e a enfrentar os medos das coisas não perigosas. As crianças se arriscam naturalmente com maior frequência do que nós, adultos já cheios de medos e nós devemos ajudar os pequenos no discernimento enquanto eles constroem a própria percepção da realidade...
E os laços familiares se fortalecem quando enfrentamos dificuldades de mãos dadas e olho no olho de quem amamos, sem medo de ter medo.
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