BRINCAR SEM BRINQUEDOS EM LIMA, COM CRIANÇAS
Adoro ver e admirar as diferenças culturais. Em Lima, no Peru, fui positivamente surpreendida por um detalhe tão gostoso na criação de filhos que não resisti e vou contar por aqui.
Fomos, eu e meu filho de três anos e meio, em um fim de tarde, ao parquinho do calçadão de Miraflores, onde haviam umas 25 crianças se divertindo muito. Só que, diferentemente de todas as outras cidades nas quais já tivemos a chance de dividir momentos com outras crianças, neste parquinho eu senti, pela primeira vez, que as crianças REALMENTE brincavam com as crianças. Ou seja, que ELAS brincavam e não que a criança tentava brincar enquanto o pai, a mãe, a babá e uma sacola com muitos brinquedos disputavam espaço com outras famílias cheias de tralha também.
Explico, pais e mães se limitavam a estar a, no mínimo, dois passos de distância de seus filhotes amados e as crianças, absolutamente TODAS as crianças estavam, acreditem, brincando sem brinquedos!!!!!
UAU, isso mesmo, crianças que conseguiram brincar com o que têm a oferecer de verdade e com o que os amiguitos queriam dar de si, dividindo seus selfs com os demais amigos que tinham o mesmo para oferecer: diversão cheia de diferenças individuais que ajudam a crescer! Não havia discussão sobre quem era o dono de tal brinquedo, não havia mãe irritada porque o filho levou um tapa porque não quis emprestar seu carrinho preferido, não havia criança brincando em um canto sozinha.
De repente, chegou uma daqueeeelas mães, que estamos mais acostumadas a ver, que não desgrudava da filha, ela chegou a xingar crianças que não faziam o que ela achava adequado, a impor regras para brincar, fazia encândalos brincando de pega pega com sua filha como se a menina não pudesse se divertir com alguém da sua idade. Essa mãe parecia tomada de uma histeria, interrompendo dinâmicas normais entre criancas da mesma idade e foi então que percebi como nós, adultos, atrapalhamos, em muitos momentos, o desenvolvimento natural de nossos pequeninos. Talvez não dessa forma neurótica como acabei de contar, mas nos interpondo onde não precisávamos nos meter, muitas vezes. Que pena...
As crianças estavam lá em perfeita harmonia, possuíam uma dinâmica light de se entender, de se falar, de comunicar o que queriam e o que não gostavam. Chega uma mãe e estraga tudo com sua sem nocão do quanto atrapalhava sua filha que, em nenhum momento se sentiu pertencente àquele lugar. Que dó, em um determinado momento a menina sentou no chão para admirar como os outros conseguiam brincar e não levantou mais para tentar brincar.
Seria tão incrível se pudéssemos ensinar nossos filhos a usar seus recursos internos para criar soluções alternativas para situações apresentadas na vida, seria perfeito ensinar o olho no olho, o fazer amigos de qualquer cultura, de qualquer idade, saber o certo e o errado através da tentativa e erro que é tão inerente ao ser humano, saber se virar na vida, desde cedo, sem a necessidade de uma muleta que muitos pais insistem em ser para seus filhos, esquecendo que não vão estar lá sempre.
Para isto, creio que é necessário começar a aprender desde muito cedo, com coisas simples como o brincar, que é a melhor simulação da vida real que nossos filhos têm. Este exemplo do parquinho sem brinquedos de Lima, pode servir como uma reflexão de uma possível forma de treinar tudo isso, pois acho que há muitas crianças legais por aí escondidas atrás de carrinhos, mães, pais, babás, bonecas, ipads. Acredito que não lhes é dada a oportunidade de ver as enormes possibilidades de alegrias decorrentes do contato com o outro lado de toda essa barreira ao social.
Se houvesse uma eleição sobre como sermos pais mais legais, eu votaria por tentarmos ensinar as crianças a fazerem amigos como mérito por serem o que são e não por terem o que tem ou por interferência dos adultos que a sufocam.
Se houvesse uma eleição sobre como sermos pais mais legais, eu votaria por tentarmos ensinar as crianças a fazerem amigos como mérito por serem o que são e não por terem o que tem ou por interferência dos adultos que a sufocam.
Voto por crianças mais reais.
Nossa, adorei essa reflexão. Ainda não tenho filhos mas percebo como alguns amigos "sufocam" as suas crianças e não deixam que eles se desenvolvam por si só. Uma pena. Mas ótimo que você percebeu isso e pode estar abordando uma criação mais criativa - como este exemplo, de brincar sem brinquedos. Acho que remete à nossa época como crianças, não?
ResponderExcluirPuxa vida, que texto bacana!!!! Fiquei pensando neste trecho "seria perfeito ensinar o olho no olho" e em como ensinamos - muitas vezes sem querer - ao invés disso, o "olho por olho"...
ResponderExcluir